O presente artigo compõe-se de três partes: filosofia, imagem e literatura. Na primeira, o autor esclarece o conceito de imagem nos Princípios de Mecânica de Heinrich Hertz (1857-1894) através das suas conexões com os conceitos de sistema e de modelo. Aqui se mostra de que modo uma teoria física deve ser entendida como uma imagem construída por nós. Na segunda parte do artigo, aborda-se a teoria física de Hertz em função do conceito de imagem: primeiramente, os fundamentos, incluindo a sua (...) relação à experiência; segundo, a dedução, que é um trabalho de imaginação; finalmente, como se testam os resultados da dedução. O artigo demonstra de que modo o estudo conjugado da filosofia e da física de Hertz permite ultrapassar dificuldades e mal-entendidos na literatura acerca da sua obra, facto de que se dá conta sobretudo na terceira parte do artigo. Em questão estão sobretudo os conceitos de imagem (Bild), exposição da imagem (Darstellung), espaço, partícula de massa, força e aplicação da teoria mecânica. De relevar ainda é o facto de estes assuntos serem também de grande interesse para um aprofundamento do nosso conhecimento da obra de Ludwig Wittgenstein, sobretudo na sua primeira fase. /// The present article consists of three parts: philosophy, image and literature. In the first one the pivotal concept of image in Heinrich Hertz's Principles of Mechanics 15 investigated through its connections with the concepts of system and model. It is shown that a physical theory is an image formed by us. In the second part of the article, Hertz's mechanics is presented as an image: firstly, the fundaments, where their relationship to experiments is dealt with; secondly, the deduction, which is work of imagination; finally, how to test the results of the deduction. The study of the philosophical and physical part of Hertz's Principles together illuminates typical misunderstandings and problems of interpretation of the Principles, as will be seen in the third part of the article. This concerns the concepts of image (Bildj, presentation of the image (Darstellung), space, mass-particle, force and the application of the theory. The subjects clarified in this article are also of interest for a deepening of our understanding of Wittgensteins early work. (shrink)

A Mecânica clássica parte da lei de inércia e usa um conceito de força que é consequência lógica da lei (§ 2-3). Acontece porém que nem a lei de inércia tem fundamento experimental (§ 1) nem o conceito de força tem referente nos fenómenos (§ 4). O estudo da função da lei e da força nas teorias mecânicas veio mostrar que a lei de inércia expressa apenas um movimento unidade e a força desvios à unidade (§ 5). Segue-se que a (...) ciência praticava uma metodologia, mas expressava-se como possuindo um conhecimento dos meandros da natureza. Isto coloca pelo menos uma questão à filosofia, porquanto a caracterização da ciência pela epistemologia usual se mostra inadequada para a mecânica. /// The classical mechanics assumes the law of inertia and uses a concept of force that is a logical consequence of the law (§ 2-3). As a matter of fact the law of inertia has no experimental basis (§ 1) and beyond that the concept of force does not correspond to anything in the mechanical phenomena (§ 4). The study of the structure of the mechanical theories has shown that the law of inertia expresses only a reference motion and the force represents deflections from that motion (§ 5). Therefore it can be concluded that even though science seems to have a far reaching knowledge of nature, it has indeed only practiced a methodology. This poses a problem for the philosophy insofar as it makes the usual epistemological framework inadequate to characterize mechanics. (shrink)